Como o desenho, o journaling e a colagem me ressussitaram
- Entreosfones Graziela Moreira
- 3 de mai.
- 3 min de leitura
A bruxa é indiscutível. E para quem não sabe, eu sou uma. Uma mulher que domina a magia nunca é invisível. Por vezes, causa incômodo. Tudo o que é estranho, diferente, indecifrável, mesmo bom, pode ser incômodo. E um jeito que as pessoas tem de lidar com isso é silenciando. Reagir ao difente remonta aos primórdios da humanidade, onde o diferente era combatido pois, por pertencer a outra tribo, ia disputar território e comida.
Costumo dizer que invalidar a voz de uma mulher hoje, sobretudo quem trabalha com magia é o mesmo que queimar na fogueira nos dias de hoje. Quem não se expressa nem existe. Hoje em dia, em tempos de redes sociais onde a vida online é tão ou mais improtante (e não que eu defenda essa ideia) não falar, é o mesmo que morrer. Se não postou então não aconteceu. Um outro fator que me provocou esse estado de invisibilidade e não existência, de inespressividade e saturação - quem não fala fica cheio demais - foi o fato de que as pessoas superestimam a ação espiritual e não querem saber da sabedoria de quem canaliza a mensagem. Uma vez que saibam que você lê, pronto, tudo o que disser precisa ser através das cartas ou da mediunidade. Isso é morrer a cada interação. Esse processo foi bem dolorido para mim. Precisava voltar a existir. Não aguentava mais não ter voz, ainda mais sendo eu tão intensa e tão profunda. Sabia que não faziam por mal. Entretanto, me perguntava porque queria tanto me expressar, que lugar queria ocupar, o que queria validar e fiquei anos trabalhando a desimportância. Saí da internet várias vezes, deixei canais e ferfis no instagram mais de uma vez. A vida continuava, os atendimentos continuavam, mas o estado de saturada me trouxe uma inflamação, sobrepeso, preguiça e ainda menos vontade de interagir. Só que as pessoas me encantam, gosto de mergulhar nelas. Mas quanto mais me calava, mais adoecia e menos energia tinha pra interação.
Sempre fui uma pessoa criativa e desenhar era algo natural, mesmo que não desenhando bem. Mas o desenho é algo tido como infantil e quando a vida dos adultos te chama, o desenho deixa de ter espaço, dando lugar a outras artes. Então eu pintava, criava digitalmente, mas nao desenhava.
Esse processo de não existir, de não ter voz durante os atendimentos, foi me deixando cada vez mais saturada do que precisava dizer, do que precisava tirar pra fora.
Comecei a ver que quando estava bem emocionalmente e saudável, a criatividade fazia parte da minha vida. Especialmente a escrita e o desenho, as cores, a pintura.
E enquanto a minha profissão me afastava de mim mesma, precisava mais ainda estar na minha vida, no aqui e agora, mas nao podia ignorar os gritos internos. Quanto mais sufocada, mais triste. Tentei a terapia, encontrei duas terapeutas maravilhosas, elas eram espetaculares. Antes disso, entrei num curso de psicanalise que me fez ver alguns dos meus padroes e aceitar minha profundidade como algo natural. Mas no meu caso, em vez de me sentir bem na terapia, me sentia invadida, como quem está com a bateria social no seu limite. Me sentia soterrrada da interação, mesmo sabendo que não estava sendo julgada. E eu nao queria ser vista, analisada, queria me expressar apenas. Queria continuar sozinha e isolada. Como me expressar sozinha e isolada? Escrevendo. E nesse processo de voltar a escrever, no inicio digitalmente, o desenho foi voltando para ilustrar o texto, para ajudar a desobstruir, ajudar a falar.
O caderno se tornou então um companheiro impressindível, silencioso, impassível e totalmente receptívo. O caderno aceita tudo. O caderno não valida, só testemunha silenciosamente. O journaling permite que se faça do caos algo belo.
O journaling pode ser só escrever, pode ser a partir de uma escrita autoexploratória, pode ser escrita e recorte, ou somente recorte. E no scrapbooking, ou ilustrado, fica ainda mais rico. Você pode explorar todos os caminhos que desejar. O desenho pode ser uma forma de magia, de atração de uma energia específica, de comunicaccão com o extrafísico ou simplesmente uma expressão. E nessa expressão, você pode ou não compartilhar. A escolha é sua. E se está nesse perfil, com certeza você tem muito aí dentro para pôr para fora


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